Construção de Personagem – Parte II
É claro que
cada autor possui o seu próprio estilo, o seu método de trabalho. Ainda que não
o tenha bem definido à princípio, a tendência é que aos poucos, ele vá moldando
suas próprias características e metodologia. No início, pode-se pautar por
algumas regras e dicas de “como escrever”, porém, faz parte de seu processo de
amadurecimento, desvencilhar-se disso, adaptando tais regras à sua forma de
criar.
Nenhum autor
jamais está pronto. Cada novo texto, cada nova linha, novo parágrafo que
escrevemos, é um aprendizado, e mesmo que vivamos 100 anos, ainda estaremos
aprendendo. É possível perceber isso quando acompanhamos a carreira de um
escritor ao longo dos anos e das obras. É notável seu amadurecimento como
pessoa e como profissional da escrita. Às vezes, o autor “passeia” por diversos
gêneros, formas de narrativas, personagens, cenários, até se “encontrar”
realmente. E por vezes, ele nunca se encontra. Assim é a arte, uma eterna
busca. Desilude-se quem se julga perfeito, intocável, livre de críticas. Sempre
haverá algo a se lapidar, a se melhorar.
Eu, enquanto
autora, tenho vivenciado isso. Alguns leitores já chegaram a comentar comigo
que perceberam o quanto amadureci ao longo de meus três livros atualmente
publicados. Inclusive como pessoa. E como meus textos refletiram o que se
passava em minha vida. Isso, porque o escritor, não consegue escrever sem
colocar em seu texto, o que lhe vai no mais íntimo. É impossível escrever sem
desnudar sua alma (parafraseando minha querida amiga e colega Carolina
Vilanova, com quem conversei longamente sobre isso recentemente). E se assim
ele o faz, seu texto soa falso, sem vida, sem paixão, e então, não “convence”,
não cativa, não emociona, não conquista. Porque a leitura, nada mais é, que o
diálogo entre duas almas. Se o leitor ou o escritor não a colocam nesse
processo, este torna-se estéril e vazio.
Mas, já
divaguei demais, rs. O que eu realmente queria falar era sobre construção de
personagens, um tema que eu já abordei no blog A Arte de escrever do meu colega de escrita e também conterrâneo Hermes Lourenço, onde colaboro como colunista (http://hmsfenix.blogspot.com.br/2014/06/construcao-de-personagem.html) há algum tempo atrás.
Porém, agora, quero abordá-lo sob outro ponto de vista. Quero falar de uma
experiência pessoal.
Embora eu
possua apenas três livros publicados (Limiar, Abismo e Refúgio), eu possuo
diversos projetos em andamento e alguns já concluídos, aguardando publicação.
Tenho trabalhado em duas vertentes um pouco distintas, uma, destinada ao
público jovem, do gênero literatura fantástica e outra, voltada ao público
adulto, num estilo semelhante ao chick-lit. Ao realizar tais trabalhos, tenho
trabalhado com personagens bem distintos e de personalidades conflitantes. Tal
feito é muito prazeroso, mas também muito desafiador.
A primeira protagonista
com a qual trabalhei, Ester Layil (da série Limiar), era uma adolescente, com a
personalidade ainda em formação. Possuía dúvidas e receios próprios da idade, com
alguns traços marcantes: introspectiva, tímida, meiga e doce. Ela correspondia
muito ao padrão de uma heroína desse tipo de narrativa e não me foi muito
difícil construí-la, já que ela, como eu disse, obedecia a certo padrão. Seus
amigos e demais personagens da trama, foram inspirados em pessoas do meu
cotidiano, o que também facilitou construção deles, outros, foram inspirados em
lendas e arquétipos.
Já minha
segunda protagonista, Alice (Filhos de Lilith, ainda não publicado), deu-me um
pouco mais de trabalho. Expansiva, extrovertida, alegre, forte, determinada,
apaixonada pela vida, audaciosa, ela era bem diferente das mocinhas “convencionais”
e porque não dizer, de mim mesma. É claro que há nela algumas características
minhas, afinal, um escritor jamais consegue conceber um personagem sem nele
colocar algo de si, mas confesso que ela me era mais “distante” que Ester, tive
que me esforçar um pouquinho mais na construção dessa personagem. Cabe
inclusive, mencionar aqui, que a personalidade dela foi o pivô de meu
desentendimento com meu parceiro, com quem eu estava escrevendo este livro,
pois ele julgou que eu “suavizei” demais a personalidade dela. É o famoso caso
onde o personagem “ganha vida” e seu criador já não pode mais controlá-lo. Eu
queria que Alice fosse mais meiga, mais romântica, mas talvez, ela não tenha
nascido para ser assim, afinal.
Depois, veio
Lia (Meu garoto), minha primeira protagonista adulta e com ela, novos desafios.
Lia tem 33 anos, mas é um pouco imatura, indecisa, receosa. Está passando por
uma fase difícil e não a está encarando muito bem. É carente, dramática,
chorona e muitas vezes se deixa levar pelas situações apenas para evitar
conflitos. O crescimento e amadurecimento da personagem fazem parte do
desenvolvimento da trama e foram-me muito custosos.
Agora, estou
trabalhando num novo projeto, dentre tantos outros, que quero destacar.
Trata-se de um livro com título ainda provisório, algo como “Solteira outra vez”.
Íris, a protagonista, tem 35 anos e enfrenta uma situação semelhante à de Lia,
porém, a encara com muito mais suavidade e bom humor, fazendo do limão que a
vida lhe deu, uma bela caipirinha. Estou me divertindo muito com as aventuras
dela e também aprendendo a rir das tragédias da vida, a ver o lado bom de tudo
que nos acontece, a confiar mais, a ter mais fé, mais esperança.
É assim a vida
do escritor: a cada personagem que lapidamos, aprendemos um pouco mais sobre
nós mesmos... O importante é jamais perder o foco, jamais perder a humildade,
jamais perder a sede de aprender, a vontade de crescer.
Para finalizar,
deixo aqui uma frase que sempre vejo “circulando” pelo face, cuja autoria,
infelizmente, não consegui precisar, entretanto, o que realmente vale, é a mensagem
que ela nos traz:
“Por mais
inteligente que alguém possa ser, se não for humilde, o seu melhor se perde na
arrogância. A humildade ainda é a parte mais bela da sabedoria.”
P.S. Ficou curioso(a) para conhecer meus novos projetos? Clica na aba "Outros projetos", ali no canto superior do blog!
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