Capítulo 4
Samael sabia
que não seria fácil convencer o caído a se juntar a ele, mas tinha um trunfo em
suas mãos e o usaria a seu favor caso fosse necessário.
Pietro era
um dos mais novos anjos caídos enviados pelo próprio
Lúcifer para corromper a alma de uma garota nefilim, mas fraco como a maioria,
deixou-se influenciar pela vingança e o ódio que tinha pelo irmão Pierre.
Apesar dos anos de reclusão após sua queda, Samael ouvia historias e conhecia
muito bem as fraquezas dos anjos para saber que Pietro aceitaria unir-se a ele
contra a nefilim, o anjo e seu Pai.
O jovem anjo
estava sentado no lado norte do Museu do Ipiranga, observando a lua cheia que
iluminava a cidade de São Paulo. Não possuía asas, mas tinha um dom especial
para conseguir se deslocar até ali. Com a possibilidade de se exibir, Samael
sobrevoou o local até que fosse visto pelo caído e só então pousou ao lado
dele, no telhado.
Pietro, um
moreno sisudo com feições italianas, levantou-se e o encarou. Tinha escoriações
no rosto e lábios, bem como nas mãos, indicando um confronto recente.
— O que é você? — questionou
ao notar as asas cinzentas, diferentes das dos anjos que conhecia.
— Samael. Sou um jinni — explicou, aguardando para ver
seu semblante mudar ao reconhecê-lo. Pietro conhecia as historias dos que foram
lançados junto com Lúcifer, mas que não queriam segui-lo, ficando exilados de
ambos os lados. Porém, o caído não sabia que eles ainda possuíam asas e o
invejou. Samael sorriu vangloriando-se e pôs-se a falar. — Sabe a que vim,
caído?
— Não — Pietro o
analisou. Samael fazia-o se recordar de seu irmão. Tinha modos um tanto rudes e
a arrogância estava presente em seu sorriso. Quis dar-lhe as costas e voltar à
melancolia de não saber como manchar a alma de Suzanna agora que estava
apaixonado, mas manteve o olhar no dele.
— Uma guerra está para
acontecer. Estou reunindo meus filhos e vim oferecer-lhe um lugar em meu
exército; a meu lado.
— Uma guerra? E a quem
você serve? A Lúcifer? — desdenhou.
— Não necessariamente.
— Eu não sirvo a mais
ninguém. Apenas a mim mesmo, não pretendo entrar em mais nenhuma contenda — deu
as costas ao jinni e suspirou,
sentando-se à beirada do telhado, olhando abaixo o Museu se estendendo,
silencioso devido à madrugada.
— Tampouco eu sirvo a
senhor algum. Mas lhe asseguro que temos inimigos em comum e apenas isso, creio
ser o suficiente para nos unir. Tempos sombrios se aproximam e é importante
criar alianças.
— Inimigos
em comum? A quem se refere?
— Creio que sabe de quem estou falando — disse, erguendo a
sobrancelha esquerda. — Acaso não ouviu falar de Noah, o nefilim?
— O que tenho eu a ver com isso?
— Ora, então
não sabes que Pierre é o responsável por tomar conta do moleque?
Pietro virou o rosto fitando-o. Todos os desejos mortíferos
contra o irmão brotando de uma só vez em sua mente. Pensou em Veronique e
também em Suzanna e se ergueu, ainda encarando Samael.
— Não quero a morte de
meu irmão — proferiu entre dentes, enquanto Samael sorria maliciosamente,
aguardando o desfecho daquelas palavras. — Quero que ele sofra. Muito.
— O que você quiser — respondeu
o anjo da morte. — Eu só quero o maldito nefilim.
Estendeu a
mão para selar aquela promessa. Pietro hesitou por um instante, mas a apertou
firmemente. Assim que Samael desapareceu, questionou-se em que havia se metido.
Só dava passos errados desde que se apaixonou por aquela maldita humana.
Não muito
longe dali, Pierre ouvira tudo e sabia que teria uma árdua tarefa pela frente.
Tinha esperanças em resgatar seu irmão e até aquele momento acreditava que
Pietro havia mudado, afinal, não obrigara Suzanna a pecar em nenhum momento, mesmo
tendo chances. Agora, começava a acreditar que os planos de Pietro eram, na
verdade, confundi-lo e fazer com que baixasse sua guarda. Precisava avisar seus
superiores, mas sem alarde, ou a guerra seria facilmente vencida... pelo lado
errado.
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